sábado, 21 de julho de 2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Simprismente

Quando eu te vi, Terezinha, foi como se viesse uma manada atrás docê. Não ficou tudo lento que nem nos firme, nem tocou uma música bunita, como aquele sinão da igreja, que quando tocava antigamente eu pensava em me casá cocê. Nada disso, não. O chão tremeu debaixo do meu pé. E fez um baruião que só veno! Cheguei inté a fica surdo! Não ouvi mais nada, nem meu coração, que eu juro que batia tão arto que até as criança que tava perto docê podia escutá! E me deu um medo, muié.. uma vontade doida de sai correno! Eu não sei expricá mió, não, mas foi assim que aconteceu. Queria se poeta pra mó de dize umas coisa bunita, assim como esse homi deve de dize procê. Ou queria dize que foi como firme mesmo. Mas, pra mim, foi isso o que eu senti, uai. Não consigo menti procê.

Ocê não ficou mais arta, mais baixa, mais gorda, mais magra, nem mais bunita de incantá os óio e enche eles de água, iguar da primeira vez que eu vi ocê, com uma frô no cabelo e um sorriso de engoli a lua. E isso que me desorientou, muié! Era ocê mesma, do jeitinho que eu me alembrava. Dos pior jeito que ocê podia ter voltado era desse: iguar. Porque mió ou pió eu podia pensa que era otra, que num ia mais me quere, nem me enfeitiça. Mas iguar, muié... Iguar é iguar, uai. É ocê! Dessa miudeza toda, que nem um bichinho de zoinho assustado. Pode num se a coisa mais bunita que ocê já ouviu, Terezinha, mas se ocê soubesse como eu acho bunito esses bichinho de zoinho assustado... É mais que uma frô das frô mais cherosa, que o solzão brilhoso do céu, em janeiro, ou que o capinzar roçando no vento... É coisa mais linda do mundo, muié! E se ocê soubesse do que eu seria capaz de faze pra protege um bichinho assustado assim que nem ocê... Num tinha poeta nenhum que ia consegui dize.

Não...

Se ocê soubesse mesmo... num tinha poeta nenhum que ia é me rouba ocê!
Simprismente, simprismente isso.
Pra depois te cuspi iguar, me fazendo passa pelo cabra, além de corno, mais medroso que já piso nessas terra, que saiu correno quando viu uma coisinha assim miudinha que nem ocê, despontá no portão. Porque eu sai correno quando te vi, Terezinha! Num foi só vontade, não. E se eu dissé que é por mó de que vinha uma manada atrás docê, ninguém vai creditá... só ocê mesmo, que credita em tudo que te falam, até nas mentira do poeta! Poeta foi feito pra menti, muié... Como eu teria mentido sobre como foi reencontra ocê, se eu soubesse usa das palavras que ele deve de sabe... Mas por isso eu não ligo de ser corno, não... Nem de num se poeta... Que ocê merecia uma vida mió com ele e acho que foi mesmo isso que ele prometeu e que ocê mais queria no mundo! Mas ocê devia sabe, ocê devia sabe que esses homi mata os bichinho assustado que nem ocê, e eu, o que eu mais queria no mundo era te faze feliz! Tanto que eu vortava procê, eu vortava procê se ocê entendesse isso, Terezinha. Mas teimosa do jeito que é, eu vo continua correno. Nunca mais quero ve.

Nunca mais vo ve ocê, Terezinha.
Fica com Deus. E com a casinha que já devem te pisoteado.

Ocê e essa manada que veio junto pisotear meu coração.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Pressa

Você não entende nada. Nada, nada. É impressionante. Não entende o meu bico. A vontade louca que eu tenho que você fique. De fazer amor, de tremer o chão, as mãos. Eu não sou transparente, mas meu corpo não sabe mentir. Se te enrosco, se te aperto e te mordo. E te arranho e te ranco e deixo pedaço. Não importa se de manhã eu finja que me esqueço, se me embaraço. Me desanuvie esse modo medo de amor. Esse cansaço que não é de fim, mas de começo. Me leia com a mesma desenvoltura com que escuta o que ofego e atende. Me entende. Atende. Atende que eu tô aqui embaixo.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Cansei de me ligar às pessoas pelos motivos errados. Disse isso a uma delas, ontem, e a resposta que ela deu me fez pensar é que cansei mesmo foi de me ligar às pessoas certas pelos motivos errados. Tipo a criança que vai à casa da avó pra ganhar presente. Minha avó nunca me deu presentes. Nunca fui muito à casa dela. Não enxerguei um motivo errado o suficiente que me prendesse a isso e os certos... Os certos nunca me interessaram. Presentes, favores, carência, sexo me ligaram a pessoas essenciais na minha vida, que nunca tiveram o valor reconhecido justamente por causa disso. Foram sempre frutos da minha falta, extensões das minhas ausências. Nada mais normal que eu as tratasse com a mesma naturalidade e indiferença com que... Com que... Com que trato a mim, oras! Mas acontece que cansei. E quando cansamos do que nos é cômodo, o negócio é sério. Quero ser incomodada, obrigada. Andar na beiradinha da piscina, ignorando a voz da mãe (que vira a sua, quando você cresce) gritando para sair já dali.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Do outro lado



De repente eu não quis te contar. Quantas saudades, Ana? E você não estava lá.
Acho que foi quase ao mesmo tempo em que não quis te contar as outras coisas. Todas as coisas.
Você nunca me conheceu de verdade, sabia? O que eu soube fazer na sua presença foi ficar boba. Nunca nada além disso. Ri demais, histérica demais. Só soei perdida, perdia o fio da meada, desconcentrada, desconcertante. Concordava com tudo. Tagarelava sem fim para que o silêncio não se instalasse entre nós denunciando o desconforto, a falta de intimidade, por mais tempo e camas que tivessem passado por nós, juntos. E eu não sou assim. Eu gosto tanto do silêncio. Tenho uma retórica linda. E termino todas as minhas sentenças! Eu as aceito, pelo menos.  Não me torturo, confundo e não me esqueço nem das frases das minhas piores leituras. Com você... Ai. De você eu recebia as suas frases como minhas e só, e mesmo quando não o fazia, ou elas, de fato e sem querer também o eram, eu me apartava de mim. Quando disse que seu filme preferido era Dogville, por exemplo. Quando você disse isso, logo de início, e meu coração deu um salto pra dentro, conhecendo bem o caminho pra boca, eu não tive coragem de lhe revelar que era o meu também porque você ia achar que eu estava só te xavecando e nem sabia quem diabos era Lars Von Trien. Deixei fingir que você me apresentou a ele, aliás. Droga. Um minuto que eu falasse isso antes e era você a se deliciar com essa coincidência apaixonante. Eu sempre cheguei atrasada. E você nunca ligou pra nada. Pra mim, todas as coincidências são apaixonantes. Pra você, elas existiam.
Budweiser cresceu absurdos e quase morreu atropelado, esses dias, pela vizinha que você sempre desconfiou ser traficante e Duda cresceu o bastante para me confidenciar que é. Ah! Duda noivou com aquele menino das canelas finas, que conhecemos todos juntos, no dia em que inventávamos sabores, se lembra? Sabor vem que eu te abro a porta de toalha. Acho que foi nesse sabor dela que ele se apaixonou. Eu me lembro dos olhinhos dele e da sua cutucada na minha costela. Quase mais nada daquele tempo faz sentido agora, a não ser os dois. Eu quebrei o dedo do pé e mudei de emprego. Duas vezes (as duas coisas). E não quis que você soubesse de nada disso. Ou melhor, não por mim. Se o soubesse não faria a menor diferença. Uma hora eu desconfiei que aquela vida minha que só existia compartilhada pelos olhos seus fosse mentira.
Era mentira. Eu não gostava dos seus comentários preconceituosos - inteligentes, engraçados, mas preconceituosos. Nem da sua insegurança com o corpo que beirava o ridículo, e o show de luzes apagadas e cobertores por todos os lugares. Te achava, sim, rebelde sem causa e, sério, Chico nem é tão genial assim. E eu relevei tudo isso com uma facilidade surpreendente e um desapego de mim sofrível. Eu amava. E sorria me esquecendo do que pensava. Só sentia. Internalizando o que você era para que fôssemos. Aceitei.
Eu aprendi a aceitar o que me viesse desde cedo. Se meu corpo não me permitia mais carne, que não a tivesse. E foi por aí que comecei. Logo, quando percebi quão triste foi ter querido continuar a minha vida - ou então começá-la - quando já era hora de começarmos as nossas, aceitei. Lamentei. Lamentei de morte, de perder jantares com a desculpa de uma indisposição só para poder lamentar sem censura. A sua. E a minha. Mas aceitei.
E foi quando eu aceitei até isso que te cuspi. A vida toda pela frente, o melhor sabor de todos.
Daqui da minha vida, saudades?
De casa, uns amigos e Budweiser.
Apenas.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Constatação

Eu não me lembro do dia em que sarei. Em que parei. Não me lembro nem da sensação e nem do sentimento dessa hora. Eu sei que pensei que seria como desafogar. Que eu respiraria aliviada, do nada, e sentiria tudo quanto eu não sentia mais, como passa o formigamento. Não foi. Bem, um desafogar foi. Mas foi depois. E diferente. Foi mais como puxar todo o ar da vida por uns pulmões ardidos e pam! viver de novo doeu demais mais tarde. Mas, enfim.

Mas, enfim, eu lembro que contei uma piada. E todo mundo riu. E eu ri. E, num suspiro bobo, meio rindo, eu disse na hora, sem pensar, o que eu tava sinceramente sentindo, pela primeira vez na vida: tinha me esquecido de que eu era engraçada. Você não sabe o que é se redescobrir! E você virou pra mim. E virou só você, no meio de todos aqueles outros, ao contrário de todas as vezes em que virou qualquer outro, a sós comigo. E um só a ponto de eu conseguir ver apenas o seu olhar de sorriso, o seu sorriso, torto, e de ouvir a sua voz me dizendo: eu não.

E naquele momento eu te amei. Eu realmente te amei. Mas não foi aquele amor pelo amor que você sentia por mim, como sempre. Nem aquele amor por gratidão. Mas eu lhe fiquei grata, também. Intensa e inteiramente grata por você ter se proposto a caminhar comigo na escuridão. Mas mais ainda por você ter entendido que eu precisava ir sozinha.

É.

Naquele momento em que eu te agradecia por ter percebido que não podia me guiar mais ou me amar mais, eu descobria que podia te amar, sim.

quarta-feira, 14 de março de 2012

... .

Eu sempre recomecei. Nunca tive medo ou receio, às vezes (todas) dor, mas sempre coragem. Se eu não estivesse feliz, me fazia todo o sentido do mundo encerrar e começar do zero nova busca. Como acomodar com a felicidade dando sopa por aí? E mais, para quê? Mesmo que o caminho pelo qual eu tivesse de recomeçar estivesse calejado, marcado já por meus passos em falso, eu sempre quis beber até a última gota das possibilidades em começar de novo.

Você demora a perceber que última gota não há.

Eu poderia passar a vida inteira recomeçando, sem terminar nada. Confundindo a força infeliz na edificação das coisas, ao enfrentar suas eventuais frustrações, com a preguiça dura dos acomodados. E encerrando em mim toda a coragem necessária em enfrentá-las, para então, encerrar, em todos, tudo aquilo que eu outrora edificava. Mesmo que fosse para que o tudo voltasse. Precisava que se encerrasse, enterrasse, errasse em alguém que não se admite errar... re-co-me-ças-se. O fim me é tão familiar a ponto de me soar mais seguro que o êxito.

Cansei, cansei, cansei de viver de recomeços. Careço, hoje, viver de prosperidade.