sábado, 16 de maio de 2009

Amor?

Não sei.
É meio paranóico.
Parece uma coisa para enlouquecer a gente devagar.

[Caio F. Abreu.]

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Atrás da porta

As malas estavam na porta da sala.
Ela, no sofá.
Ele, no quarto.

Podia ser um daqueles dias em que ela queria assistir TV até mais tarde e acabava dormindo na sala mesmo, enquanto ele, sistématico que só, apagava as luzes sempre no mesmo horário. E levantava de madrugada, a levava de volta para o quarto, pro seu lado da cama não ficar vazio a noite inteira, pra ele dormir sentindo a presença dela.
Não era.
As malas estavam na porta da sala.

O que mais doía era aquilo não fazer sentido. Algum.

Às vezes, o homem se priva da verdade pra não viver na incerteza. E era exatamente o que tinha acontecido ali. Pra que tentar acreditar nela se era mais fácil acreditar nele? E no que ele temia que acontecesse todos os dias? Pra que continuar esperando acontecer? Melhor achar que aconteceu logo e pronto. Acabam-se as dúvidas e acabam-se as inseguranças. Pra que se esforçar (mais) por ela?

Horas de discussão. E ofensas. E lágrimas. E copos de água. E louça quebrada. E o que sobrara eram as malas na porta da sala.

É. Viver na incerteza e no medo de que o pior aconteça é pior do que quando o pior acontece. Por isso muitas vezes, o homem se agarra ao pior, mesmo que ele nunca tenha se consumado. Pelo fato de ser uma dor conhecida e uma dor suportável.
E era no que tinha se agarrado o homem dela.

Porque a incerteza dói.
E viver na incerteza é insustentável.

Mas o que mais doía era aquilo não fazer justiça. Alguma.

O que mais dóía e enchia o olho de água.
E enchia o coração de mágoa.
E ardia, ardia, sem pressa.
Eram as malas...
As malas atrás da porta.

sábado, 9 de maio de 2009

"Parei de te amar
Às 23h44min do dia 9
Do céu sem luz
E as ruas nuas de Barretos."

9 de janeiro de 2008
A lápis e letra de forma
No verso de "Amor nos tempos do cólera"
Movida à cólera.
Irônico, não?

Queria que essa exatidão fosse sincera.

Queria poder dizer assim tão exatamente quando foi que você mudou.
Ou onde. Ou porquê.
Só posso dizer onde ou quando eu percebi.
E que acho ter alguma coisa a ver com isso.

Todo mundo tem alguma coisa a ver com o que o outro se torna.
Uns mais. Outros menos.
Eu, no seu caso, tudo.

O seu descontrole.
A sua desnatureza.
Sua rudeza fora de equílíbrio.
- O seu desequilíbrio.
A imaturidade escancarada nas frases.
A insegurança. A cabeça-dura. O ciúme.
Tudo.
E nada.

Nada disso é o que me irrita e o que me machuca.
Sou eu.

Eu, por ter gerado isso, dia após dia.
Por ter parido isso.
Por ter concebido você.
Assim.
Pior.

Sabe, é duro quando vem um caminhão e destrói tudo que a gente é.
Mas mais duro ainda é ser esse caminhão. É destruir nós mesmos e, com o que somos, o que os outros eram. O que os outros tão brilhantemente eram.

Às vezes é por inveja.
Por ciúme ou por ambição.
Na pior delas, por amor.

Ou pela negligência com que tratamos ele.
Nunca podemos nos esquecer de que nada, nem o amor, muito menos o amor, é auto-suficiente.