quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Desabafo não necessariamente necessário II

Escrever virou uma espécie de competição pra mim depois que eu percebi que muita gente faz isso melhor do que eu. É compreensível, entende? Escrever foi a única coisa que eu fiz certo nessa vida inteira, a única coisa em que eu fui de verdade boa. Eu podia não saber cantar, não saber servir, não saber contar piada, não saber dançar. Mas eu sabia escrever.

Só não tanto quanto eu achava.

E descobrir isso foi de uma amargura de doer. A partir de então tudo me passou a ser forçado, forjado para ganhar. E nunca mais foi o mesmo.

Há tempos que já não inspirava. Que não tinha grandes sacadas ou frases arrepiantes. Há tempos que não tocava ninguém. Era como crescer e perceber que a piscina da sua casa não é nem tão funda e nem tão grande quanto você achava. Você sabe nadar sob essa nova perspectiva? Eu afoguei de cara.

Passei a ser eu mesma insensível ao que escrevia. E foi numa dessas madrugadas de palavras indiferentes que percebi. Escrever não é nem de longe uma competição.

Se escrevem melhor, ótimo. Ótimo mesmo. O mundo precisa de palavras bonitas, palavras tristes. Palavras bem escritas. Se são minhas ou se eu daria de tudo para sê-las e não o são, que diferença faz? Se o mundo toca.. faz toda a diferença.

É a única ação cujo autor não importa.
Não muito.
Não sempre.
Não, de jeito nenhum.

Sejam melhores.
Melhores do que eu.
Melhores do que ontem.
Escrever não tem primeiro lugar.
Tem todos.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Desabafo não necessariamente necessário

Não nasci pra ser jornalista.
Nasci pra ser livre.


Não que eu entenda muito de liberdade.
Ou que seja um tanto Clarice e ainda não exista nome para o que eu quero.
Existe um nome pro que eu quero.
Chama-se escrever.


E niguém pode me tirar isso.


- e tenho dito!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Foi singelo, rápido - menos de 8 segundos - e perturbador.
Mas aconteceu.
E ele considerou aquilo como o divisor de águas da sua vida.
(mas isso é uma bobagem porque toda decisão sua já é uma espécie de divisor de águas da sua vida).
Enfim, considerou.

Se olhou no espelho e viu a mesma pessoa.
Um pouco mais velha, um pouco mais sábia.
Nem um pouco mais serena.
E afastou os pensamentos de preocupação diária, corriqueira, que nunca tinham hora pra chegar, como não esquecer de comprar pó de café.

- Tinha acontecido aquilo e ele pensou em café.
Isso era uma daquelas provas, que ele sempre provava à contragosto, de que o mundo não para.
Nem para que você comemore.
Muito menos para que você se recupere.
- e, muitas vezes, nem mesmo para que você se dê conta do que aconteceu.
É como um mau competidor.
Se você cai na pista, ele continua em frente.
Acostume-se o quanto antes.
E acostumado ele era.

Por isso largou do café e, em instantes, voltou o pensamento àquilo.
A primeira coisa que viu ao abrir os olhos, naquela manhã cheirando à vodca, foi ela.
Mais velha, mais sábia e, naquele sono profundo, serena.
E naquele momento em particular, e porque era dele, mais bela.
E, pronto. Tinha acontecido.
Ele tinha, finalmente, acordado.

O tempo não foi o dele.
(e quando o é?)
Mas as vontades já não eram as mesmas, o gosto era outro.
E os olhos que abriu? Emprestados.
Os dela haviam molhado e melhorado tudo que era dele, naquela manhã.
E a partir de então, e de repente, tudo ficou muito mais possível com os olhos dela.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Antes de dormir

E foi assim.
Como se eu fosse fiozinhos amarrados em você.
Elásticos que esticam. Elásticos que voltam.
Se não soltam? Soltam.
Só que tem sempre alguém pra dar o nó do reencontro.
Fiozinho que viro, entretanto, o nó torce.. o nó dói de vez em quando.
Dói ser nó e ficar junto. Mas serve pra manter junto. Entende?
É como ser aquelas luzinhas de Natal enroladas.
-Se pudessem falar aposto que gritariam!
Tão cheias de nózinhos. Tão juntas juntas. Não se sabe onde tem começo. Muito menos fim.
A única diferença é que com paciência, a gente consegue separar as luzinhas, todinhas.
Já a gente, com paciência, consegue grudar sem nozinho doído.

Tô me sentindo tão boba.
Com necessidade de escrever assim no diminutivo.
De escrever como aquela menina que ainda não tinha computador e vivia feliz com um calo no dedo de tanto escrever bobamente.

Sei não.
Aquela sua pintinha no olho esquerdo, que me olha doce toda noite, me deixa emocionada.