segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

2011

Se alguém me contasse, no começo desse ano, que eu trancaria a USP e não voltaria pra São Paulo, que passaria o natal e o reveillon na Argentina, que engordaria cinco quilos, que compraria um cachorro, que enjoaria de comida japonesa, que descobriria um desamor e um amor de mesma intensidade... Eu iria dizer 'cala a boooca!'

Alguém tem alguma dúvida de que eu não vá especular nada do ano que vem?
Que venha.
E nunca percam a fé num ano ímpar.

:D

Boas festas desde já que eu não volto pra cá tão cedo.
I guess.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Verdade

Eu não canso de me arrepender. Não canso de fazer perguntas sem respostas, de me questionar por que fui fazer isso ao invés daquilo, por que não disse exatamente tal coisa ou por que eu não posso simplesmente voltar uns meses de vida e não esfaquear oportunidades que hoje eu lamento, irresistivelmente, ter esfaqueado até a morte. Não canso de exaltar um passado que não tem a menor possibilidade de voltar, de me condenar por um erro irreversível. Aliás, eu até hoje não tenho bem certeza se existe algum que se reverte mesmo... Não canso de trair a mim mesma, fazendo, sentindo, falando e até comendo exatamente o que eu me prometi nunca mais, nunca mais, voce tá me ouvindo?
E eu não vou me cansar nunca. Se engana você se acha que pode continuar assim que um dia vai se cansar, mais do que todas as outras vezes em que disse que estava exausto, que não aguentava mais, que aquela era a última vez.

Se lamentar não cansa, meu amigo. Vicia.
Você, assim como eu, só vai parar o dia em que perceber que supervalorizamos demais nossas escolhas pessoais. E isso pode demorar muito, muito mesmo, se contarmos com a nossa deseperada necessidade em pertencer, em nos sentirmos com alguma significância nesse mundo. Ainda mais quando não temos ninguém para dizer que pelo menos na vida dessa pessoa significamos.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Personageando-me

Em todo o meu tempo de leitora busquei me encontrar em alguma das personagens que li. Mais do que numa simples - ou até mesmo complexa - semelhança ou num gosto incomum em comum, eu busquei achar algo que me explicasse de um jeito que nem mesmo eu sabia me explicar, de um jeito espelho que me tomasse de um assombro inteiramente particular. Procurei... Especialmente nas personagens masculinas porque, a despeito de conseguir fazer mil coisas ao mesmo tempo e de prestar atenção e opinar em mil conversas paralelas, sempre me achei um pouco homem num corpo de mulher. Minhas reclamações, o jeito de lidar - lê-se fugir - dos sentimentos e relacionamentos, minhas indiferenças e desatenções, meu desligamento, absolutamente tudo que eu sempre ouvi minhas meninas falarem e concordarem, em cumplicidade, a respeito dos homens era o que eu pensava/sentia/fazia, desde sempre. Isso, além do futebol e da cerveja, confesso, fizeram com que me procurasse, sinceramente, nos homens que li e reli sem limites, durante a vida. Mas foi numa mulher, e quando menos esperei ou procurei, quando já me pensava única no mundo - olha que disparate! - que fui me encontrar, certeira. E não foi diferente do que eu pensava, não. Me tomei de um assombro espetacular, me entendi como nunca e como nunca me senti mulher.

Amaranta Buendía é uma personagem de Gabriel Garcia Márquez, em Cem Anos de Solidão. E ele conseguiu explicar e entender nela o que eu passaria anos sem entender e explicar em mim.
(ou que eu passaria anos fingindo que não entendia?)

"Amaranta, pelo contrário, cuja dureza de coração a espantava, cuja concentrada amargura a amargava, foi revelado no último exame como a mulher mais terna que jamais pudesse haver existido e compreendeu com uma penosa clarividência que as injustas torturas a que submetera Pietro Crespi não eram ditadas por uma vontade de vingança, como todo mundo pensava, nem o lento martírio com que frustrara a vida do Coronel Gerineldo Márquez tinha sido determinado pelo fel ruim da sua amargura, como todo mundo pensava, mas sim que ambas as ações tinham sido uma luta de morte entre um amor sem medidas e uma covardia invencível, e triunfara finalmente o medo irracional que Amaranta sempre tivera do seu próprio e atormentado coração."