Acordei ontem de manhã [aniversário de 2006] com o aperto que só uma falta enorme é capaz de fazer. Daquela sem motivo concreto, sem início ou princípio de fim, um grande buraco negro onde até cortar o dedo em papel dói menos. Falta da falta de oportunidades em determinadas circunstâncias. Falta de gente longe. Ou até mesmo de gente no quarto ao lado. Pessoas e fatos que perto ou distantes, às vezes, me faltam. Abri os olhos. E, você, Mãe, na minha cama a relembrar como em todos os anos: "Você não nasceu aindaaa... Só a uma hora da tarde!!". Na verdade, eu não tinha REnascido ainda, Mãe. Não mesmo.
Levantei com a angústia de que aquele falta fosse se fazer o dia inteiro... Fiz as obrigações diárias até a uma da tarde. Com gente medicando essa falta que insistia em abrir feridas, e pasmem-se senhores, com gente insistindo em abrí-las. Não renasci à uma, Mãe. Acho que dessa vez você deve ter ficado mais horas em trabalho de parto. Creio eu, aliás, que não fez isso sozinha, dessa vez. Que o dia foi se arrastando e a falta foi avançando... Mas foram te ajudando. Nos ajudando...
Aos pouquinhos, fui ficando capaz de perceber o quanto me faziam rir o tempo todo. E que esforços de horas antes com as minhas feridas, a longo prazo, serviram. Fui capaz de perceber que a falta ia crescendo... Mas também se transformando. Se transformando em cada sorriso que me davam e que me arrancavam. Cada abraço. Cada presente. Cada parabéns.
E no final do dia. Ah. No final do dia que pareceu mais demorar dois... Eu tava com esse sorrisinho que é uma delícia poder dar, pra cada um. Pra mim... Renasci agora, Mãe. Não sei a que horas, porém. Nem mesmo se de fato teve A hora, ou uma mistura de minutos incontínuos... E decisivos. E já dei meu primeiro passo aprendendo que essa falta que se faz doer e se transforma, na verdade, serve só para nos relembrar , assim como você faz com o seu "uma hora da tarde" sentada na minha cama, todos os anos, que oportunidade a gente é que faz no caminho que escolheu, e não elas que pulam para o caminho que renunciamos como achamos mais fácil pensar de vez em qdo. E que qto a essas pessoas que faltam... E faltam... E faltam... Estando do seu lado. Estando a km de distânica... Estão ali presentes. Nessa falta que dói e a gente sente.
Dentro.
Sempre.
Acordei hoje de manhã sem voz...
E com esse sorrisinho triplicado.
À sua parte nessa história, o meu muito obrigada.