quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pra você guardei o amor

Ela era tão linda, tão deliciosamente linda, que eu nem ligava chegar em casa e vê-la andando nua num apartamento de cortinas abertas. Silenciosamente, ia até lá e as fechava, enquanto ela abria o seu sorriso pra mim. Não que ela tivese um desejo interno de grandioso exibicionismo. Gostava de luz, gostava de nudez, e para ela as coisas funcionavam simples assim. Não se importava com absolutamente ningúém. E disso quem gostava era eu.

Me realizei ao vê-la lidando gentilmente bem com os ataques da minha mãe ao seu jeito de ser, vestir, falar, comer, e ser novamente, exatamente nessa ordem, quando se conheceram. Eu lhe avisei que isso aconteceria, que ela se incomodaria com nosso relacionamento e todo mundo iria falar e comentar sem parar aquele dia, e os que viriam também. Minha família nasceu, cresceu e provavelmente vai se extinguir sem saber admirar a exceção. Ela simplesmente não sabe lidar com o prato diferente que substitui o que quebrou, na mesa posta, sabe? Não sabe lidar com a realeza da minha menina no reinado de mulheres sem graça da família. Mas era como se eu nem precisasse avisar...

Chego e a arranco de onde quer que esteja, a trago para colar em mim, pelo quadril, lhe declaro e dedico poemas (um novo a cada dia) ao pé do ouvido, porque sei que ela gosta e morre de rir e de amor. Ah, e descobri, recentemente, que não são os mais eróticos que terminam minhas chegadas em uma entrega de amor mais louca, e sim os mais tristes.

- É que tenho tanto dó da tristeza...

Confessou-me quando perguntei sobre esses poemas, dias desses, depois de lhe imitar um solitário trovador, deitado em seu colo - meu palco mais cheiroso e gostoso e inspirador do mundo.

- ... e preciso mostrar que existe saída. O amor existe, sabia?


Se sabia, era por causa exclusiva dela.
E se era saída?

Bom... Foi a minha.


Pra você guardei o amor.

Um comentário:

Unknown disse...

quero conhecer essa menina.
qual o prédio e o andar?