sexta-feira, 2 de março de 2012

A dois

'Eu queria ser o seu amor, mas aceito ser o seu amante'

A vez em que eu ouvi isso devia ter, sei lá, aquela idade em que você acha que o amor é suficiente ou que traição é privilégio (ou desgraça) de quem não ama. E eu fiquei indignada. Como assim? Como que alguém podia aceitar isso, aceitar só as migalhas de um amor? Ou nem isso? Por quê? Anos mais tarde, quando me ouvi dizer 'eu quero que você me use, então' foi que eu entendi.

Não estou dizendo que achei certo, que achei justificável, ou que me senti menos repugnante. Tem tanta coisa em jogo! Só entendi.

Daí você, que foi de quem eu escutei aquilo, e quem eu achei que por causa disso fosse entender mais do que ninguém, você me sentou numa cadeira e limpou minhas lágrimas. Lágrimas teimosas que insistiam em cair contrariando toda a força fria das minhas palavras. E tirou o cabelo que havia grudado nelas, em meu rosto. E me falou:

- Tem coisas para as quais nós devemos estar preparados, menina.

Pfff.. Eu tinha acabado de despejar ali o que acreditava ser o desejo de todo cara e ele me dizia isso? Fosse o que fosse que ele sentisse por mim, amor, raiva ou indiferença, ele sairia ganhando e pronto. Quem precisa estar preparado para uma coisa dessas?

- Quando você veio pra cá... quando você veio pra cá, você não estava. Quando eu te conheci, eu não estava. E quando nós nos perdoamos, nenhum de nós estava. Lembra? Lembra do que você me falou sobre o perdão?

- Só quem não ama perdoa.

- Pois é verdade. Eu quis estancar essa sua frieza, como fiz o tempo todo com você, que insistia em sangrar e suar indiferença, mas é verdade. Pelo menos assim, de cara. Só perdoa assim quem não se importa com o erro do outro, e só não se importa quem não ama. E foi exatamente o que a gente fez... Não suportávamos viver separados que nos jogamos um perdão que não existia, um perdão de gente que não sente nada.

Mas o que é que isso tem a ver com...

- E você está fazendo a mesma jogada agora, menina. A mesma jogada.

E desde quando oferecer perdão era a mesma coisa de oferecer...

- Desde quando o perdão que eu te ofereci foi tão prostituído quanto isso que você tem a me oferecer agora.


ps. lembrar-me de ir embora antes que ele consiga ler meus pensamentos.
e me deitar fora.

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