sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Carta a Mãe ou Do meu aniversário de 18

Acordei ontem de manhã [aniversário de 2006] com o aperto que só uma falta enorme é capaz de fazer. Daquela sem motivo concreto, sem início ou princípio de fim, um grande buraco negro onde até cortar o dedo em papel dói menos. Falta da falta de oportunidades em determinadas circunstâncias. Falta de gente longe. Ou até mesmo de gente no quarto ao lado. Pessoas e fatos que perto ou distantes, às vezes, me faltam. Abri os olhos. E, você, Mãe, na minha cama a relembrar como em todos os anos: "Você não nasceu aindaaa... Só a uma hora da tarde!!". Na verdade, eu não tinha REnascido ainda, Mãe. Não mesmo.

Levantei com a angústia de que aquele falta fosse se fazer o dia inteiro... Fiz as obrigações diárias até a uma da tarde. Com gente medicando essa falta que insistia em abrir feridas, e pasmem-se senhores, com gente insistindo em abrí-las. Não renasci à uma, Mãe. Acho que dessa vez você deve ter ficado mais horas em trabalho de parto. Creio eu, aliás, que não fez isso sozinha, dessa vez. Que o dia foi se arrastando e a falta foi avançando... Mas foram te ajudando. Nos ajudando...

Aos pouquinhos, fui ficando capaz de perceber o quanto me faziam rir o tempo todo. E que esforços de horas antes com as minhas feridas, a longo prazo, serviram. Fui capaz de perceber que a falta ia crescendo... Mas também se transformando. Se transformando em cada sorriso que me davam e que me arrancavam. Cada abraço. Cada presente. Cada parabéns.

E no final do dia. Ah. No final do dia que pareceu mais demorar dois... Eu tava com esse sorrisinho que é uma delícia poder dar, pra cada um. Pra mim... Renasci agora, Mãe. Não sei a que horas, porém. Nem mesmo se de fato teve A hora, ou uma mistura de minutos incontínuos... E decisivos. E já dei meu primeiro passo aprendendo que essa falta que se faz doer e se transforma, na verdade, serve só para nos relembrar , assim como você faz com o seu "uma hora da tarde" sentada na minha cama, todos os anos, que oportunidade a gente é que faz no caminho que escolheu, e não elas que pulam para o caminho que renunciamos como achamos mais fácil pensar de vez em qdo. E que qto a essas pessoas que faltam... E faltam... E faltam... Estando do seu lado. Estando a km de distânica... Estão ali presentes. Nessa falta que dói e a gente sente.

Dentro.

Sempre.

Acordei hoje de manhã sem voz...

E com esse sorrisinho triplicado.

À sua parte nessa história, o meu muito obrigada.

2 comentários:

Alice Agnelli disse...

"oportunidade a gente é que faz no caminho que escolheu, e não elas que pulam para o caminho que renunciamos como achamos mais fácil pensar de vez em qdo."

só um dos trechos que me trouxe também um certo sorrisinho. triplicado.

lindo!

Clara disse...

Eu sei exatamente como é esse buraco no peito. E sei o quanto é bom ouvir risadas no quarto ao lado.

Mas, sabe, isso só faz com que a gente ame mais ainda, Paulinha!

beijos!
(e você escreve muuuuito bem!)