As malas estavam na porta da sala.
Ela, no sofá.
Ele, no quarto.
Podia ser um daqueles dias em que ela queria assistir TV até mais tarde e acabava dormindo na sala mesmo, enquanto ele, sistématico que só, apagava as luzes sempre no mesmo horário. E levantava de madrugada, a levava de volta para o quarto, pro seu lado da cama não ficar vazio a noite inteira, pra ele dormir sentindo a presença dela.
Não era.
As malas estavam na porta da sala.
O que mais doía era aquilo não fazer sentido. Algum.
Às vezes, o homem se priva da verdade pra não viver na incerteza. E era exatamente o que tinha acontecido ali. Pra que tentar acreditar nela se era mais fácil acreditar nele? E no que ele temia que acontecesse todos os dias? Pra que continuar esperando acontecer? Melhor achar que aconteceu logo e pronto. Acabam-se as dúvidas e acabam-se as inseguranças. Pra que se esforçar (mais) por ela?
Horas de discussão. E ofensas. E lágrimas. E copos de água. E louça quebrada. E o que sobrara eram as malas na porta da sala.
É. Viver na incerteza e no medo de que o pior aconteça é pior do que quando o pior acontece. Por isso muitas vezes, o homem se agarra ao pior, mesmo que ele nunca tenha se consumado. Pelo fato de ser uma dor conhecida e uma dor suportável.
E era no que tinha se agarrado o homem dela.
Porque a incerteza dói.
E viver na incerteza é insustentável.
Mas o que mais doía era aquilo não fazer justiça. Alguma.
O que mais dóía e enchia o olho de água.
E enchia o coração de mágoa.
E ardia, ardia, sem pressa.
Eram as malas...
As malas atrás da porta.
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