quarta-feira, 13 de maio de 2009

Atrás da porta

As malas estavam na porta da sala.
Ela, no sofá.
Ele, no quarto.

Podia ser um daqueles dias em que ela queria assistir TV até mais tarde e acabava dormindo na sala mesmo, enquanto ele, sistématico que só, apagava as luzes sempre no mesmo horário. E levantava de madrugada, a levava de volta para o quarto, pro seu lado da cama não ficar vazio a noite inteira, pra ele dormir sentindo a presença dela.
Não era.
As malas estavam na porta da sala.

O que mais doía era aquilo não fazer sentido. Algum.

Às vezes, o homem se priva da verdade pra não viver na incerteza. E era exatamente o que tinha acontecido ali. Pra que tentar acreditar nela se era mais fácil acreditar nele? E no que ele temia que acontecesse todos os dias? Pra que continuar esperando acontecer? Melhor achar que aconteceu logo e pronto. Acabam-se as dúvidas e acabam-se as inseguranças. Pra que se esforçar (mais) por ela?

Horas de discussão. E ofensas. E lágrimas. E copos de água. E louça quebrada. E o que sobrara eram as malas na porta da sala.

É. Viver na incerteza e no medo de que o pior aconteça é pior do que quando o pior acontece. Por isso muitas vezes, o homem se agarra ao pior, mesmo que ele nunca tenha se consumado. Pelo fato de ser uma dor conhecida e uma dor suportável.
E era no que tinha se agarrado o homem dela.

Porque a incerteza dói.
E viver na incerteza é insustentável.

Mas o que mais doía era aquilo não fazer justiça. Alguma.

O que mais dóía e enchia o olho de água.
E enchia o coração de mágoa.
E ardia, ardia, sem pressa.
Eram as malas...
As malas atrás da porta.

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