domingo, 10 de abril de 2011

Amor em 3 atos: Segundo.

Eu vou e me sento. Sem ser convidada e sem dizer nenhuma palavra. Enquanto você tranca a porta, em silêncio, eu me sinto uma completa estranha. Uma completa estranha num lugar em que eu já considerei mais parte de mim do que a casa em que eu cresci. Eu lembro de que ríamos, nos tempos bons, pensando em como era engraçado o fato de, antes daquele momento, daquele particular momento em que nos conhecemos, sermos uns completos estranhos, alheios a nossa própria existência.

Fizemos aniversário sem nos convidarmos, viajamos sem nos trazer presentes, imaginamos um futuro inteiro sem nossas futuras – e agora passadas - lembranças, e presenças. Você sentiu meu perfume e não se lembrou de mim. Eu ouvia Chico e não me lembrava de você. Nunca mais seríamos assim, como o éramos antes de saber da existência um do outro, do gosto um do outro. Mas isso nunca quis dizer que não nos sentiríamos mais tão pouco à vontade assim quando sozinhos.

E aquele momento era a prova disso.

Me senti incomodada, insegura, nervosa. Tudo que eu não costumava ser na sua presença. Você foi paciente. Paciente até demais, na minha opinião. E ter noção disso me deixava a cada minuto mais nervosa. E mais muda.

Como as coisas mudam!

Eu quis começar um diálogo, podia até ser um monólogo, mas a única frase que cismava em vir na minha cabeça era: eu te amo, porra! E eu não podia despejar aquilo em você. Não assim. Não, de jeito nenhum. Não? Mas o que eu estava fazendo ali, afinal?

- Eu sei que você não me ama mais.

Pronto. Foi tudo o que eu consegui transformar do “eu te amo, porra!” e articular numa frase, que saiu feito bolha da minha boca, feita pra sumir, em seguida, no silêncio constrangedor que se instalou e começou a me consumir. Na verdade, eu só estava esperando que você gritasse bem alto: MENTIRA! QUEM TE DISSE ISSO? EU AINDA TE AMO, SIM! VAMOS FUGIR, VAMOS CASAR, VAMOS FAZER AMOR, VAMOS SER FELIZES, VAMOS, VAMOS... !!

É. Mas não rolou assim.

E "É" foi a sua resposta. Nunca pensei que uma palavrinha tão pequenininha pudesse doer tanto no ouvido da gente. No coração. Nas pernas bambas. Eu quis pensar que você só estivesse sendo meio orgulhoso. Mas você falou com tanta convicção. Na verdade, com tanta indiferença. Que num poderia ter soado mais real...

Era verdade. E até então, eu não contava, de fato, com isso.

(...)

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