A inocência sempre se perde. A realidade é suja, é lasciva. É aquela putinha da esquina por quem tu passas e pensas que não vale nada, e ergues o rosto, e lavas as mãos, e desvias a cara, e fazes graça, e sabes-se uma versão humana melhorada. És?
Te dê tempo. Por ti também escorre lama. Te olha no espelho, e perceba que animalesco. É uma grossura, um desassossego. Erras. E tu nunca voltas ao que era, nem ao que poderia ter sido.
Não é justo; pelo contrário, é humano.
No fundo somos tudo um bando de bosta. Que se julga e se condena, e se acha no direito.
Ah, inocência. Uma vez rompida, és todas as outras corrompido.
Não adianta.
Não te lavam. Não te limpam. Não te desinfetam, nunca.
Ninguém é bom moço a vida inteira, menino.
Não espero isso.
Ou desejo.
Só não te acostumes com os colos e com as lágrimas.
Não vão passar a mão na tua cabeça pra sempre.
A inocência te perde.
E enquanto dependeres da caridade dos outros, jazerás, perdido.
3 comentários:
Forte...Mas bem, contanto que a (des)inocência não atinja outras pessoas e se verifique mais na forma de um prazer, acho natural...E intrigante.
ótimo. ótimo mesmo.
sim, somos todos um bando de bosta justamente por nos acharmos dignos de julgar os outros. e judar a nós mesmos.
viu, as linhas finais são cruelmente verdadeiras - só que poucos percebem isso.
*julgar
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