Meu vô, por meu pai.
Minha vó, por mim:
Minha vó não ia a festas. Mas ia a todos os funerais. Ela não era um ser humano normal. Mas eu gosto de pensar que era um ser humano demais.
Ela tinha um sabor assim agridoce. A doçura das avós e o amargo dos anos. Já eu, que só tinha a inexperiência insossa da falta deles, nunca consegui aceitar essa amargura, aparentemente, comigo. O que me fez cometer um rio de injustiças com ela.
Minha vó, por mim:
Minha vó não ia a festas. Mas ia a todos os funerais. Ela não era um ser humano normal. Mas eu gosto de pensar que era um ser humano demais.
Ela tinha um sabor assim agridoce. A doçura das avós e o amargo dos anos. Já eu, que só tinha a inexperiência insossa da falta deles, nunca consegui aceitar essa amargura, aparentemente, comigo. O que me fez cometer um rio de injustiças com ela.
Suas mãos eram todas pintadinhas. Os lábios também, em toda visita. Mas eu não fiz muitas visitas a ela na vida... E isso é o que mais me dói nisso tudo. Essa mania preguiçosa de adiar tudo e não entender nada.
Sua comida era simples: tudo junto e misturado.
Mas minha vó era um pouco assim. Todos os anos da sua vida, todos os ressentimentos, todos os acontecimentos e sentimentos, todo passado, presente, futuro. Um tudo numa coisa só. Numa coisinha, por sinal.
Nunca tinha reparado em como ela era pequena como no único dia em que a visitei no hospital.
A segunda coisa mais frágil que eu já toquei na minha vida.
O que mais me chamou a atenção foi a primeira delas. A fragilidade do meu avô perante a fragilidade dela. A despeito da neta que tem, meu vô é um homem grande. E forte. Demais. Nunca o tinha visto fraquejar. Nunca o tinha visto chorar nem falar palavrão. Vi tudo junto e misturado quando o junto e misturado que o matinha em pé, se foi.
Nunca tinha reparado em como ela era pequena como no único dia em que a visitei no hospital.
A segunda coisa mais frágil que eu já toquei na minha vida.
O que mais me chamou a atenção foi a primeira delas. A fragilidade do meu avô perante a fragilidade dela. A despeito da neta que tem, meu vô é um homem grande. E forte. Demais. Nunca o tinha visto fraquejar. Nunca o tinha visto chorar nem falar palavrão. Vi tudo junto e misturado quando o junto e misturado que o matinha em pé, se foi.
Ela era o leme.
Ela era a força.
E ser o leme e ser a força não só sua, mas também de alguém, ainda mais alguém que parece ter o dobro da sua força, e apesar de toda amargura da vida, de conhecida a pior dor do mundo, que é a de perder uma filha, não é pra qualquer um.
Hoje, a gente precisa de todo mundo de casa pra fazer o que ela fazia em um segundo. E não dá conta! Hoje a gente não é um terço do que mantinha o velho em pé. A gente não é um terço do que era ela.
Hoje, a gente precisa de todo mundo de casa pra fazer o que ela fazia em um segundo. E não dá conta! Hoje a gente não é um terço do que mantinha o velho em pé. A gente não é um terço do que era ela.
As perguntas de sempre sobre onde eu pintava o cabelo, as reclamações de que eu não ligava, os saltos fazendo barulho pelo corredor, as chipas cuja receita nunca foi revelada, a missa, os óculos, as jóias, as histórias, tudo me falta. Tudo me lembra ela. E com o tempo acho que piora. A ausência se faz mais presente, em todo lugar.
Mas se eu puxei um pouquinho da fortaleza e da paciência dela, vai dar pra aguentar. Vai dar pra aguentar muita coisa. E é nisso que eu prefiro pensar, agora.
Ela morreu sabendo que era forte e bonita.
E, hoje, eu posso viver sabendo que, realmente, era.
4 comentários:
=)
vou com o Victor. palavras demais agora estragarão o momento
... pela força que nunca seca ...
"A ausência se faz mais presente, em todo lugar"
me fez lembrar a melhor definição que já ouvi da palavra saudade:
é a presença da ausência.
mas é nessa saudade que se tem a certeza do amor.
;)
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